15 de maio de 2012

CARTA ABERTA A BAN KI-MOON SOBRE A SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA GUINÉ-BISSAU

Exc. Sr. Secretário-geral da ONU
Ban Ki-Moon
Bissau 15 de Maio 2012

Assunto: Carta aberta sobre a situação dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau

Os nossos melhores e respeitosos cumprimentos

No passado dia 12 de abril de 2012, a Guiné-Bissau foi sacudida mais uma vez por um golpe de estado liderado por um grupo de militares, autodenominado Comando Militar. Esta acção anticonstitucional das forças armadas mergulhou o país numa crise política inédita e com consequências imprevisíveis para a vida pública nacional.  

Entre várias consequências deste golpe militar, destaca-se o disfuncionamento da administração pública, a restrição abusiva dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos tais como manifestações, liberdade de expressão e de imprensa, a intimidação e perseguição de alguns responsáveis políticos e cívicos, vandalismos e pilhagens sistemáticas nas residências dos membros do governo e outras figuras públicas, agressões e espancamentos de algumas pessoas entre as quais jornalistas, a confiscação ilegal dos materiais dos profissionais da comunicação social e a degradação das condições de vida dos cidadãos.

A par destas ilegalidades, o Comando militar publicou no dia 09 de Maio 2012, uma extensa lista de 58 pessoas interditas de viajar, entre as quais figuram, membros do governo deposto e do partido no poder, Deputados de Nação, lideres dos partidos políticos, responsáveis de administração eleitoral, empresários e dirigentes das organizações humanitárias. Antes desta medida manifestamente ilegal, circulava em Bissau uma outra lista de 48 pessoas também acusadas de ser supostos responsáveis dos assassinatos ocorridos na Guiné-Bissau nos últimos anos.


Sr. Secretário Geral,

Estas Acções, para além de consubstanciarem em violações grosseiras dos direitos civis e políticos dos cidadãos e por conseguinte, as normas e princípios constantes na Declaração Universal dos Direitos Humanos e demais outras convenções aprovadas pela ONU e ratificadas pelo governo da Guiné-Bissau, também indiciam caça às bruxas e a justiça dos vencedores, factos que possam contribuir para os sentimentos de odio e da vingança assim como agravar ainda mais o ambiente da instabilidade politica e militar de que se vive no nosso país.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos, acredita que a impunidade constitui o principal desafio para os direitos humanos na Guiné-Bissau e tem funcionado como o principal factor de incentivo às cíclicas instabilidades políticas e militares com efeitos contraproducentes e adversos aos esforços para a consolidação da paz e reconciliação nacional.

 Contudo, só haverá a paz, tranquilidade e bem-estar social na Guiné-Bissau com a realização de uma verdadeira justiça capaz de condenar os criminosos e ilibar os inocentes e não a transformação das instituições judiciais como ferramentas doceis para eliminar os adversários políticos e silenciar as vozes discordantes.

Alias, só nesta perspectiva seremos capazes de construir uma sociedade onde a reconciliação, o respeito pelos direitos humanos, a democracia e o estado de direito, a cultura da paz e tolerância sejam uma realidade.

Assim, a Direcção Nacional da Liga Guineense dos direitos Humanos vem através deste meio solicitar a intervenção urgente da vossa excelência junto do Estado-Maior General das Forças Armadas e do Comando Militar, no sentido de abstiverem de cometer actos ilegais que poem em causa os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e, em consequência, revoguem a proibição das viagens e autorizem o exercício pleno destes mesmos direitos nomeadamente de manifestações, liberdades de imprensa plena e de expressão enquanto conquistas irreversíveis do povo guineense.

Sem mais assunto Sr. Secretario Geral, aceite os protestos da nossa mais alta consideração e estima.


A Direcção Nacional

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Luís Vaz Martins

O Presidente