3 de outubro de 2016

FORÇAS DE SEGURANÇA E RESPEITO PELOS DIREITOS HUMANOS



A constituição guineense reserva para as forças de segurança a missão de defender a legalidade democrática, garantir a segurança interna e externa e proteger os direitos dos cidadãos. 

A situação das forças de segurança é caraterizada por agentes envelhecidos grande parte inativos mas ao mesmo tempo avessos a reforma, multiplicidade de serviços, missões mal definidas, ausência de mecanismos internos de controlo e de prestação de contas, efetivos mal distribuídos sobre o território nacional, corrupção, fraco nível de formação, precariedade material, imagem de descrédito junto da população devido o abuso de poder e a existência de redes internas  de associação criminosa e degradação das suas instalações. 

As forças de segurança têm ainda a particularidade de acomodar nas suas fileiras indivíduos sem qualquer preparação, chamados auxiliares, que são recrutados aleatoriamente a mercê dos chefes de diferentes esquadras espalhados em todo o territorial sem qualquer critério de razoabilidade. Para além de traduzir num ato ilegal, tais medidas poem em causa a ordem pública e segurança nacional, pois na sua maioria, são indivíduos com antecedentes criminais que passam de um dia para outro a ostentar autoridade do estado.  

 Espancamentos, detenções arbitrárias e assassinatos 

As violações dos direitos humanos traduzem no modus operandis das forças de segurança em toda a sua dimensão. O corporativismo, a indisciplina, a anarquia e impunidade potenciam a pratica de crimes contra cidadãos os quais paradoxalmente têm a missão primária de os proteger.
As forças de segurança da Guiné-Bissau nas suas diversas categorias nomeadamente, a policia de ordem pública, os serviços de informação de segurança, a polícia de proteção pública, guarda nacional, entre outras, têm como denominador comum a violação dos direitos humanos. As praticas de crimes cobertos pela hierarquia da corporação são facilitadas pela ausência de mecanismos de responsabilização interna e de avaliação externa da conduta dos seus oficiais.
Recentes casos de espancamentos brutais do Jornalista Ismael Bari e do motorista Júlio Féliz Silva Diouf ambos perpetrados pelos agentes da guarda Nacional, revelam a dimensão da falta de preparação de muitos elementos das forças de segurança para manter a ordem e tranquilidade pública.

Entre vários casos de abusos de autoridade, espancamentos e torturas até a morte queremos reavivar a memória dos guineenses apenas dois casos que culminaram com a morte das vítimas:

Em 19 de Setembro de 2014, um cidadão nacional de nome Etchem Mendes foi  interpelado com a ordem de detenção  por um grupo de agentes armados e afectos à Policia de Ordem Pública, sem qualquer mandado emitido pelas autoridades competentes.

Na tentativa de questionar as razões da sua detenção, Etchem Mendes foi barbaramente espancado pelos mesmos, tendo acabado por falecer no mesmo dia em consequência das agressões infligidas. Os autores daquele macabro ato tentaram ocultar o cadáver aos familiares da vitima, os quais só tiveram acesso ao corpo dois dias depois do sucedido.

Na senda de espancamentos e assassinatos, os agentes da esquadra de polícia de Bissorã torturaram até a morte um cidadão  de nome Tchutcho Mendonça aproximadamente de 37 anos de idade no dia 6 de julho 2015. Embora ainda não cumpriram as suas penas os autores deste último foram condenados entre 5 a 7 anos de prisão.

Estes são apenas exemplos de casos de torturas e espancamentos de cidadaãs indefesos perpetrados pelos agentes afectos às forças de segurança num clima de total impunidade.

Uma corporação policial que atua nestes moldes não só traduz num perigo para a democracia e ao estado de direito, mas também constitui uma afronta aos direitos humanos.
As forças de segurança não podem ter licença para matar, muito menos carta branca para espancar, torturar, roubar e prender arbitrariamente.

É urgente reformar as forças de segurança expurgando no seu seio os deliquentes e malfeitores, criando mecanismos de controlo e prestação de contas, assim como estabelecimento de critérios de recrutamento selectivo de efectivos fisica, mental, moral e psicologicamente preparados para enfrentar os desafios de manutenção da ordem e segurança pública.

A paz e tranquilidade pública dependem muito do nivel, a preparação e modo de atuação das forças de segurançã.