8 de dezembro de 2022

LÍDERES RELIGIOSOS ADOTAM AGENDA COMUM PARA A PAZ NA GUINÉ-BISSAU

A “Agenda Comum dos Líderes Religiosos Para a Promoção da Paz, Prevenção do Radicalismo e Extremismo Violento na Guiné-Bissau” foi adotada por mais de 50 líderes religiosos das comunidades Islâmica, Católica e Evangélica representadas no país.

No âmbito do Iº Encontro Nacional de Reflexão dos Líderes Religiosos Para a Prevenção do Radicalismo e Extremismo Violento na Guiné-Bissau, o qual decorreu entre os dias 30 de novembro e 1 de dezembro de 2022, no Hotel Dunia Bissau (ex-Azalai), no quadro do projeto Observatório da Paz / Nô Cudji Pazfinanciado pela União Europeia e pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, foi adotada por unanimidade a “Agenda Comum para a Paz” na qual os líderes religiosos reconhecem os riscos que estes fenómenos representam para a paz, estabilidade e o desenvolvimento socioeconómico; o impacto assimétrico do radicalismo e do extremismo violento sobre as mulheres e as crianças e que afeta todas as comunidades, estratos sociais e confissões religiosas; cientes também da tentativa de associar o radicalismo e o extremismo violento aos conceitos religiosos e, finalmente, conscientes do papel das comunidades religiosas na consolidação da pazproclamam como acordo de compromisso, nomeadamente, as seguintes iniciativas:

               Advogar a adoção de políticas públicas para promoção da paz no âmbito do Observatório da Paz;

               Promover parcerias nacionais e internacionais de boas práticas no domínio da PREV; 

               Assegurar o distanciamento ativo em relação aos partidos políticos e às agendas político-partidárias, respeitando a laicidade do Estado e a igualdade de todas as confissões religiosas;

               Trabalhar ativamente para a identificação e erradicação de práticas e narrativas que coloquem em causa a paz comum, particularmente, o discurso de ódio, a apologia à intolerância religiosa e a abordagem ligada à segregação étnico-tribal;

               Trabalhar com o poder tradicional, as autoridades públicas, a sociedade civil e as organizações comunitária de base na adoção de estratégias específicas e transversais para mitigar os riscos da radicalização e o extremismo violento nas comunidades mais vulneráveis. 

Iº Encontro Nacional de Reflexão dos Líderes Religiosos Para a PREV visava:

               Discutir as estratégias conjuntas e coordenadas entre as diferentes confissões religiosas com pelo menos 50 líderes religiosos entre os quais Imames, Padres e Pastores para fazer face às ameaças do REV;

               Reforçar os conhecimentos e as capacidades dos líderes religiosos em matéria de REV;

               Adoção de uma agenda comum de atores nacionais, em particular dos líderes religiosos, com metas e ações concretas a desenvolver pelas diferentes confissões religiosas e autoridades nacionais tendo em vista a consolidação da paz, prevenção do radicalismo e extremismo violento.


sessão de abertura foi presidida pela Sua Excelência, Ministra da Justiça e Direitos Humanos da República da Guiné-Bissau, Dra. Teresa Alexandrina da Silva, e contou com a participação do Dr. Augusto Mário da Silva, Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), do Dr. Ahmed Zaky, Administrador Executivo do Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), Dr. António Nunes, Adido para a Cooperação da Embaixada de Portugal na República da Guiné-Bissau e a Dra. Montse Pantaleoni em representação da Delegação da União Europeia na República da Guiné-Bissau.

Durante a sua alocução, a Ministra da Justiça e dos Direitos Humanos, considerou de que a “criminalidade organizada em todas as suas formas, o terrorismo, a corrupção e branqueamento de capitaissão ameaças crescentes ao desenvolvimentopaz e estabilidade desta nossa sub-região”, por outro lado, a Ministra assegurou o profundo empenho e determinação do Governo em colaborar com o Observatório da Paz, ajudando e apoiando ao fortalecimento da coesão nacional, e sobretudo, para promover o diálogo inter-religioso enquanto instrumento indispensável para o alcance de uma paz duradoura no país.

Na mesma ocasião, o presidente da LGDH, Augusto Mário da Silva, referiu que o “Observatório da Paz” pretende apenas servir de facilitador para o estabelecimento de uma aliança da paz das confissões religiosas, com a finalidade de promover valores humanistas e fortalecer a coesão entre os guineenses.

Ahmed Zaky, Administrador do IMVF, promoveu na sua apresentação uma visita guiada ao Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, no Egito, sua terra natal, como exemplo da convivência entre as três maiores religiões mundiais monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Montse Pantaleoni, da União Europeia, referiu a sua experiência quando trabalhou na Nigéria, um país que enfrenta uma forte ameaça do extremismo violento, bem como chamou a atenção para o papel das mulheres na promoção da paz e prevenção do extremismo violento.

António Nunes, Camões, I.P., referiu que embora o país não esteja atualmente sob ameaça de extremismo violento, enfrenta algumas das condições socioeconómicas que são conducentes ao processo de radicalização, as quais devem ser endereçadas. 

O encontro foi facilitado pelo Instituto Timbuktu – uma organização de referência na área da PREV na África Ocidental, sediada em Dakar. O Dr. Bakary Sambe, diretor do Instituto Timbuktu, dividiu as suas apresentações em quatro temas1. REV – conceitos e definições; 2. panorama regional da ameaça e das questões nacionais; 3. processos de radicalização individual e dinâmica de grupo; e 4. A relevância do papel dos líderes religiosos na PREV. 

O Dr. Hamadou Boiro, consultor do projeto Observatório da Paz, responsável pelo Estudo Compreensivo sobre a Radicalização e Extremismo Violento na Guiné-Bissau, apresentou três conclusões relevantes:

       “Na Guiné-Bissau não existe, ainda, muita influência dos grupos extremistas devido às características do Islão praticado no país. Porém, o país está sob pressão, depende da ajuda externa, e se os jovens não forem apoiados poderão vir a tornar-se o alicerce do extremismo violento.”

        “A pobreza e acesso a educação pode, em certas zonas, tornar as comunidades mais vulneráveis e favorecer a emergência dos grupos com ideologias extremistas.”

       “Uma das principais recomendações passa pelo reforço da educação nas zonas mais vulneráveis, envolvendo ativamente os líderes religiosos e as mulheres na PREV.”

O Observatório da Paz é uma iniciativa do Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) e da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) financiado pela União Europeia e Camões, I.P., e pretende contribuir para o diálogo, promoção da paz e prevenção da radicalização e do extremismo violento na Guiné-Bissau através do reforço da participação, trabalho em rede e estabelecimento de parcerias estratégicas entre as Organizações da Sociedade Civil (OSC) e outros atores sociais e políticos para abordar e prevenir a REV (objetivo específico).

Para mais informações sobre Agenda Comum consulte aqui.